Manifesto

Constituição da República Portuguesa

Artigo 59.º

Direitos dos trabalhadores

  1. Todos os trabalhadores, sem distinção de idade, sexo, raça, cidadania, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, têm direito:
    1. À retribuição do trabalho, segundo a quantidade, natureza e qualidade, observando-se o princípio de que para trabalho igual salário igual, de forma a garantir uma existência condigna;
    2. A organização do trabalho em condições socialmente dignificantes, de forma a facultar a realização pessoal e a permitir a conciliação da atividade profissional com a vida familiar; […]

Desde as mais antigas civilizações que os grandes projetos de obras públicas foram precedidos de estudos topográficos.

Até ao início da era industrial os funções de topógrafo, arquiteto e engenheiro eram desempenhadas pelo mesmo homem, pela simplicidade das solicitações técnicas e construtivas.

Modernamente, devido à complexidade dos projetos e solicitações técnicas cada vez mais exigentes, a topografia exige um profissional altamente especializado: o topógrafo.

A era industrial provocou um tal desenvolvimento na construção civil e obras públicas, cada vez maiores e mais ousadas que as profissões geradoras de toda essa expansão, devido à qualidade e quantidade dos conhecimentos que tinham que dispor e das perdas humanas e materiais que a sua má preparação técnica e científica poderiam provocar, teriam que se cingir a rigorosas normas éticas e profissionais acompanhadas de sólidos conhecimentos técnico-científicos.

O Estado viu-se na necessidade de ele próprio criar e ministrar cursos que garantissem as necessidades de projeto e construtivas exigidas pelos constantes progressos que se desenhavam no sector.

Criaram-se cursos de Arquitetura e Engenharia, dando-se aos Engenheiros sólida formação topográfica. O Engenheiro, segundo o critério da altura poderia desempenhar perfeitamente as duas funções interdependentes, Topógrafo e Engenheiro.

O Engenheiro, devido às solicitações cada vez maiores no campo específico da Engenharia e ao reduzido número de licenciados, constatou na prática que a atividade topográfica, pela sua complexidade, lhe absorvia excessivo tempo, sentindo-se na necessidade de delegar as funções topográficas, para se poder dedicar inteiramente ao projeto e supervisão.

O Engenheiro Geógrafo, devido à sua formação, estava vocacionado para as necessidades nacionais no âmbito cartográfico, tanto mais que o Portugal de então com as suas colónias, e devido à sua imensa área, absorvia todos os licenciados nesse sector.

Havia que criar um profissional de topografia com formação análoga à dos então Agentes Técnicos de Engenharia, que fosse o elemento de ligação entre o Engenheiro ou o Arquiteto e a Obra, que não só lhes proporcionasse todas as representações gráficas do terreno como também numa fase posterior lhes interpretasse o projeto e materializasse no terreno a forma projetada e apoiasse no seu normal desenvolvimento construtivo.

No segundo quarto do século vinte, com o advento de uma nova ordem industrial, essa carência foi-se acentuando sem resposta satisfatória do Estado ou das Associações ligadas à Indústria.

Subestimando as funções do já existente Topógrafo, o Governo cria um curso de topografia na Escola Machado de Castro em 1948, a nível das antigas Escolas Industriais, onde são ministrados insuficientes conhecimentos de topografia a par de noções no âmbito da engenharia, que não satisfaz minimamente tanto qualitativamente como quantitativamente as necessidades Nacionais.

As obras públicas proliferam, fazem-se grandes barragens, aeroportos, refinarias, autoestradas, onde o papel do Topógrafo é fundamental não só na definição gráfica do terreno como na interpretação do projeto e também na materialização milimétrica do desenvolvimento das estruturas de uma barragem, a verificar e vigiar as deformações naturais ou anormais de grandes volumetrias, a assinalar o local e fiscalizar a colocação dos pilares de grandes pontes, a posicionar o local e orientar grandes antenas de telecomunicações, etc.

O Topógrafo que desde a interpretação do projeto, cálculo, materialização e fiscalização até à colheita de elementos para determinação de volumes tendo como fim medições de obra e sem qualquer supervisionamento executa todas as tarefas, só com conhecimento superior pode vencer os obstáculos criados pela cada vez maior complexidade dos projetos e aspectos construtivos.

Este Técnico existe, colaborou ativamente com inteira responsabilidade desde a mais insignificante obra de construção civil, até à mais grandiosa obra pública.

Na definição topográfica projeto e materialização de linhas estruturais, como colaborador de empreiteiro ou função privada. Na definição topográfica, projeto e fiscalização, como funcionário público ou função pública.

Não nos podemos esquecer que da fiabilidade da atuação do topógrafo, podem depender não só sérios prejuízos materiais e atrasos significativos na condução de qualquer projeto, como até vidas humanas.

Nestes tempos de CEE, afigura-nos um quadro pitoresco relativamente aos nossos colegas Europeus: Eles têm genericamente formação a nível superior por exigência das tarefas que executam. O Topógrafo Português, que desempenha tarefas equivalentes às dos congéneres Europeus, não têm formação académica superior mas sim os conhecimentos necessários para o desempenho dessa atividade, adquiridos autodidaticamente e com base na experiência .

O Estado contribuiu minimamente e subestimando sempre o real valor da profissão, criando para além do curso da Machado de Castro, cursos de topografia no âmbito das estruturas técnico-profissionais no Instituto Geográfico e Cadastral desde 1980, só se apercebendo realmente da necessidade do tal elo de ligação entre o projetista-arquiteto-engenheiro e a obra, com a criação do curso superior de topografia, pela Portaria nº 953/90 de 8 de outubro, que segundo a nossa experiência deveria incluir conhecimentos no âmbito da construção civil para o futuro técnico estar mais sensibilizado para futura colaboração.

O Topógrafo no sector privado tem granjeado uma posição que na maioria dos casos condiz com o seu nível funcional. Na função pública cada vez é mais subalternizado o seu desempenho e capacidade.

O Governo, tentando minimizar a importância histórica do Topógrafo no desenvolvimento da construção civil e obras públicas deste Pais, tentando reduzir o seu real valor, determina através do despacho 1/90 de 27/1/90 que o Topógrafo executa as suas funções sob a orientação de um Engenheiro Geógrafo.

A não ser em casos excepcionais, o Topógrafo, tanto na função pública como na privada, executa a sua atividade com plena autonomia e responsabilidade, como anteriormente se provou.

A situação a nível de função pública, já justificou no caso de J. A. E. a intervenção do seu Diretor Geral, junto do Ministro da tutela, intercedendo sobre a passagem destes técnico-profissionais à categoria de técnicos. O mesmo procedimento já o teve também, não só a nível de função pública como privada o SETACCOP.

O sentimento generalizado de insatisfação na classe perante o não reconhecimento do desempenho e capacidade do Topógrafo, levou à espontânea necessidade da Associação Nacional de Topógrafos, tendo como fim a criação de um órgão, que legal e oficialmente possa pôr fim a uma injustiça de décadas e sirva de veículo às justas reivindicações dos membros da classe.

A A.N.T. (Associação Nacional de Topógrafos), tem existência jurídica desde 29 de junho de 1991.

Por tudo o exposto anteriormente, pelo reconhecimento do valor e conhecimentos técnicos adquiridos por via autodidática e com base na experiência dos Topógrafos tanto na função pública como privada, por ser o Topógrafo que concebe, prepara, estuda, oriente e executa todos os trabalhos topográficos necessários à elaboração de planos, cartas, mapas, perfis longitudinais e transversais, com apoio nas redes geodésicas existentes e ou nas redes de triangulações locais, por meio de figuras geométricas com compensação expedita, (triangulação-quadriláteros) ou por intersecção inversa, recorte ou por irradiação direta ou inversa, ou ainda por poligonação (fechada e compensada) , como base de todos os demais trabalhos de levantamentos, quer clássicos quer fotogramétricos, cadastrais ou de prospecção geológica.

Determina rigorosamente a posição relativa de quaisquer pontos notáveis de determinada zona da superfície terrestre cujas coordenadas obtém por processos de triangulação, poligonação, trilateração ou outra. Executa nivelamentos geométricos de grande precisão; interpreta os projetos de engenharia e arquitetura, calcula analiticamente todas as figuras geométricas necessárias à implantação no terreno das linhas gerais de apoio, bem como toda a piquetagem de pormenor, para a execução construtiva do projeto; fiscaliza, orienta e apoia a execução de obras na área de topografia aplicada, procedendo à verificação de implantações ou de montagens, com tolerâncias muito apertadas a partir de redes de apoio; realiza todos os trabalhos tendentes à determinação de áreas e volumes e medições de estruturas, nomeadamente no sector de construção civil e obras públicas, a partir de elementos levantados por si ou a partir de desenhos de projeto e sempre também com base em elementos elaborados por si; executa trabalhos cartográficos e de cadastro; realiza projetos geométricos de estradas, vias férreas, valas e canais de irrigação e outras com base nas normas técnicas em vigor; executa os trabalhos referidos e outros ligados às especialidades topográficas, com plena autonomia funcional.

Foi portanto o Topógrafo de forma ativa e decisiva colaborador no desenvolvimento económico deste País.

Com vista a uma definitiva moralização e institucionalização da profissão, vem esta Associação propor:

Que lhe sejam reconhecidos os conhecimentos adquiridos por via não académica e com base na experiência;

Passe a A.N.T. a emitir carteiras profissionais com base em critérios a definir, que limite o exercício da profissão;

E que desde já, sejam os Topógrafos integrados na Carreira Técnica.